Ituiutaba, sábado, 23 de novembro de 2024

Qual o preço que Ituiutaba vai pagar com a flexibilização do comércio e dificuldade de fiscalizar, e fazer cumprir as regras? Quem vai pagar a conta?

Publicado por Vigilante do Povo em 04/05/2020 às 11:00

 

Por Geiza Ardila

 

Com a faca no pescoço e as fortes pressões para a flexibilização do comércio em Ituiutaba, o prefeito da cidade, Fued Dib, não teve conter a sanha dos comerciantes para editar um decreto praticamente abrindo todas as prestações de serviços, que não vinham cumprindo as determinações dos decretos anteriores. Na quinta-feira passada, 30 de março, o que foi visto é apenas um terço do cenário dos próximos dias.

Não teve muita saída para a ganância e as pressões de toda reunião do comitê. Que ao final, cedeu e o prefeito também. O sistema de saúde de Ituiutaba continua o mesmo. Ou seja, o mesmo onde os pilantras da política ficavam na porta do Pronto Socorro e da Secretaria de Saúde, mostrando a calamidade que acompanha ainda a cidade no setor.

Só que agora, como num passe de mágica, nem os doidos e os aproveitadores da política, nem certo candidato a pré-prefeito deixou de encontrar os velhos problemas a saúde pública. Acabaram os escândalos, o mal atendimento, a falta de vagas, a falta de médicos e a demora no atendimento.

Mudou alguma coisa com a Covid-19, não. Nem um milímetro. Nem os 800 casos de dengue, doença tão grave, que também mata, dores intensas ou deixa sequelas nada agradáveis para os seus portadores, que pior pode se repetir, na forma hemorrágica, assusta os políticos e os empresários.

O mote de um mês com candidatos aproveitadores fazendo carreta e muita chantagem de provocar demissão em massa, Diante de tanta chantagem, a decisão saiu no momento em que o governo federal está mais perdido do que cego em tiroteio com relação à pandemia, quando os mortos nem são contabilizados mais direito, e a bagunça se instalou, com o colapso do sistema de saúde público.

Ituiutaba vive a crise de “São Tomé”. Não viram a doença e as suas consequências, então não existe. Tem que tocar, como o discípulo de Jesus as chagas do Cristo para saber  que sim, “és tu, meu Senhor”.

Na quinta-feira passada e na noite que se seguiu as pessoas pareciam apressadas e que tinham compromissos inadiáveis. O movimento do trânsito duplicou de um dia para outro e não eram mais só os pobres em busca da ajuda emergencial do governo, os absurdos R$ 600. Tudo estava funcionando mesmo antes do novo decreto. Sim, tudo sem controle epidemiológico.

 

A conta de quem só pensa no dinheiro

 

A conta dos pseudos-empresários da cidade é simples: não abrir era enfrentar o desemprego. Essa era a primeira “facada”. Nunca, nesses 32 anos de jornalismo, um empresário em Ituiutaba esteve tão preocupado se vai demitir ou não empregados.  O mote sempre foi o atrasado “ninguém é insubstituível” e a certeza que para cada profissional de ponta que despedisse tinha 3 ou 4 ganhando seis vezes menos do que ele  e que fariam fazer o trabalho relativamente “meia-boca”.  Qualidade zero, condições de trabalho zero, salários atrasados nos bons ou nos maus tempos econômicos, e presença constante do assédio moral e psicológico.

De repente, começaram uma campanha mentirosa e desumana sobre os empregados. Ameaças nada veladas sobre a demissão de todos. Algumas postagens no Facebook traziam o mote ameaçador e ilegal (nem se questiona a moralidade aqui) : Enquanto você está em casa, seu patrão está se preparando para mandar você embora.

Carreatas e postagens ridículas, de quem não tem nem uma portinha de comércio aberta pressionavam a opinião pública. E, claro os políticos.

Como na consagrada música, tantas fez o pato, que conseguiu colocar todos na panela.

 

A verdade da flexibilização do comércio

A doença Covid-19 está, aparentemente, controlada até o momento em Ituiutaba. Desde a implantação do isolamento social e o distanciamento, menos pessoas circularam pelas ruas e o trânsito de veículos caiu muito o fluxo. As maiores aglomerações sempre foram nas portas dos bancos.

Dia 30 de março, com a notícia da flexibilização, foi intensa a presença de pessoas nas ruas do centro e entrando e saindo de lojas sem máscaras e vendedores sem lulas. Uma senhora, com certeza com mais de 60 anos estava na porta de uma com uma bombinha borrifando álcool nas mãos dos clientes. Incoerência maior impossível.

Não vi os donos. Vi os pobres. Vi os trabalhadores. Os locais estavam sujos. As calçadas e fachadas também. Uma população jovem e muitas crianças nas ruas sem máscaras.

Isso irá dobrar na terça-feira, quando passa a valer as novas regras.

Nas feiras livres, nada é seguido como a determinação e não se controla centenas de pessoas, que não sabem o risco e nem querem saber da Covid-19. Não acreditam.

Como sempre, prevaleceu a pressão dos empresários em tempos eleitorais.

Se houver aumento no número de contágios não saberemos. Os testes para se identificar a doença não existem e quando feitos são recolhidos ao laboratório em Belo Horizonte. Semanas para chegar o resultado.

Aliás, todos estão trabalhando às cegas, tentando manter o sistema público sem colapsar. Até agora estava dando certo.

 

Como seguir as novas regras

 

Simplesmente não seguirão as novas regras. A fiscalização será inútil.  Burlavam antes mesmo da flexibilização, vão burlar muito mais. O efetivo de fiscais é pequeno e o de policiais também. Bares e restaurantes serão os mais complicados. O pequeno shopping center da cidade será outro foco, pior, com uma população jovem invadindo o local, na busca por ar-condicionado e internet  gratuita.

O que se fará para fornecer máscara para a população inteira, que nem se importa em não usar?  Sim, os mais pobres e sem oportunidade de diversão vão fazer a mais antiga escalada da população menos favorecida. Vão descer para o centro ver o movimento dos bares, se aglomerar em praças e esquinas ou conveniências. Todos sem máscaras, sem acesso a banheiros e formas de higienização das mãos.

A possibilidade de controle é impossível, como nas feiras livres. Querem vender, mas pode ser um custo alto.

Era isso que foi visto anos após anos na cidade. Mas, alguém está realmente preocupado com os pobres? Claro que não. Nunca  foi prioridade, só nas falácias contadas nos planos econômicos e ações políticas.

O pobre é pano de fundo para as medidas, mas nunca a razão principal delas.

A culpa é de quem?

 

As contas simples, que não fecham

 

Simplificar é só o que se houve nas reuniões do comitê de enfrentamento por parte dos comerciantes e seus apoiadores. “A cidade precisa voltar a se movimentar”. E o preço a ser pago. Agem como ignorantes (acredito mais como convenientes ao interesse financeiro) e afirmam que são tantos respiradores, tantos leitos e  tantas UTIs.  Ninguém morreu em Ituiutaba, dois casos da doença confirmados e o pior já passou.

A questão é que essa realidade mostra um passado de semanas que já se passaram. Quando é noticiado um boletim hoje, ele reflete uma realidade de duas ou três semanas passadas.

Assim como no céu, por estar anos-luz da terra, uma estrela que  já explodiu a séculos, continua sendo vista pelos habitantes da Terra. Afinal, quando se olha o céu, olhamos o passado.

Outra situação que é simplificada, pois o interesse é maior do que a vida do outro ou a deles próprios. Pacientes que precisam de UTIs necessitam de equipes especializadas e trabalhos intensivos. É uma especialidade médica. E de enfermagem também. Técnicos de enfermagem não são intensivistas,

 

 

 

A diferença entre CTI e UTI

Uma unidade de tratamento intensivo (UTI) ou unidade de cuidados intensivos (UCI) é uma estrutura hospitalar que se caracteriza como “unidade complexa dotada de sistema de monitorização contínua que admite pacientes potencialmente graves ou com descompensação de um ou mais sistemas orgânicos e que com o suporte e tratamento intensivos tenham possibilidade de se recuperar”.[1] O profissional que se dedica a esta modalidade de atendimento chama-se intensivista.

A UTI é, juntamente com a Unidade Semi-Intensiva e a Unidade Coronariana (UCO), uma das 3 unidades do Centro de Terapia Intensiva (CTI). Na UTI, ficam os doentes mais graves, que requerem mais cuidados que na Semi-Intensiva. Já para a UCO, são mandados aqueles doentes que apresentam algum problema cardíaco.

No gráfico que publicamos nesta matéria você, leitor Vigilante, poderá acompanhar o que é necessário para o funcionamento correto dessas unidades. E não temos equipe em Ituiutaba para sequer fazer um revezamento de 12 horas.

Por isso, não basta o leito, é preciso o profissional. Como jornalista sou obrigada a perguntar aos líderes ou representantes classistas se possuímos esse mínimo?

Por isso, a “gripezinha” pode ter um efeito sem volta em Ituiutaba e muita gente vai sofrer. E o que esta jornalista mais deseja é estar errada.

 

… E será assim

 

Um espirro inocente por causa de um perfume mais forte de um colega que se encontrou, casualmente na rua, pode ser o início de um momento devastador na vida de uma pessoa. Virando o rosto ou tentando segurar com as mãos, as gotículas  imperceptíveis são lançadas sobre outro e caem na criança abaixo, perto do adulto que a levou para dar uma “voltinha” no centro da cidade.

Imperceptivelmente, e antes de embora, elas ou eles se cumprimentam com forte aperto de mão e um abraço amigável, com tapinhas nas costas, um aperto do ombro, acompanhado “bom te ver”.

Assim, dessa maneira casual entre as pessoas de uma comunidade, sobretudo os brasileiros, que ninguém acha estranho, que se inicia o contágio pela Covid-19.

Um gesto corriqueiro e comum entre nós. Mas, que nos tempos de Covid-19  pode levar à morte.

Mudar hábitos seculares e de cordialidade não é nada, nada fácil mesmo.

E muitos podem morrer e ficar com sequelas graves não por não pela doença em si, mas pela demora no atendimento, filas para UTIs ou leitos para um tratamento mais adequado. Essa demora é que mais mata. Sem contar que as comorbidades, sobretudo hipertensão, obesidade e diabetes, aceleram o processo.

O rápido contágio de pessoa para pessoa é o grande desafio. O vírus Sars-CoV-2 , que provoca a Covid-19, foi descoberto a menos de um ano e no mundo, mais de 3,2 milhões de pessoas contraíram o novo vírus e mais 233 mil morreram por complicações da Covid-19, sem contar as subnotificações, por falta de testagem, na maior parte dos países.

 

Só fazer a conta

 

Se seguir a conta da infecção, 80% serão infectados, mas somente 5% da população apresentarão as formas graves da Covid-19. Isso em Ituiutaba seria mais de 5 mil pessoas.