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Publicado por Vigilante do Povo em 07/08/2020 às 15:02
De um estabelecimento familiar de produção de tomate na área rural de uma pequena cidade a uma grande fazenda de criação de gado: nada escapa ao Censo Agropecuário. A realidade no campo é retratada pela pesquisa que alcança nesta terça-feira (1/9) 100 anos de história. O Censo Agro é a principal e mais completa investigação estatística e territorial sobre a produção agropecuária brasileira, contemplando informações sobre a estrutura, a dinâmica e o nível de produção dessa atividade econômica no país.
As informações geradas pelo Censo Agro possibilitam, por exemplo, o planejamento e a avaliação de políticas públicas sobre o setor. Elas propiciam, também, estudos a respeito da expansão da fronteira agrícola e da dinamização produtiva ditada pelas inovações tecnológicas e enriquecem a produção de indicadores ambientais. Permitem ainda análises sobre as transformações decorrentes do processo de reestruturação e de ajustes na economia e de seus reflexos sobre o setor.
O primeiro Censo Agropecuário foi realizado em setembro de 1920, pela Diretoria Geral de Estatística – DGE, órgão do extinto Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. A partir dessa operação pioneira, foram mais 10 edições, sendo a última em 2017, totalizando 11 Censos Agropecuários. O IBGE tem sido responsável por esse trabalho desde a fundação do Instituto, em 1936. “E em todos esses anos, o IBGE esteve presente e participou dessa transformação, fornecendo dados de qualidade para traçarmos metas e elaborarmos políticas públicas cada vez mais eficientes e eficazes”, reconhece a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, que enviou mensagem de congratulações ao IBGE.
No período de 100 anos, o Censo Agro acompanhou a mudança tecnológica no campo e também se modernizou – seja nas temáticas abordadas ou nas tecnologias utilizadas hoje para a realização da pesquisa. Na década seguinte a do primeiro levantamento, por motivos políticos que culminaram na Revolução de 30, o Censo Agro não foi realizado. “A partir da década de 40, ele foi feito de dez em dez anos, até 1970, quando passou a ser quinquenal. Então teve em 70, 75, 80 e 85. Hoje ele deveria ser feito de cinco em cinco anos, mas a partir de 85 houve problemas para conseguir recursos, sendo realizado apenas em 1995-1996, 2006 e 2017”, conta Antonio Carlos Florido, pesquisador aposentado do IBGE que esteve à frente do Censo Agro nas últimas três edições.
Florido começou a trabalhar no Censo Agro aos 25 anos, assim que entrou no IBGE, em 1977. O Censo Agro de 1975 estava no início da fase de apuração. “Basicamente quando eu entrei o questionário era em papel, era um trabalho enorme, porque todo esse material era recolhido e trazido para o Rio de Janeiro, então levava de cinco a seis anos para divulgar o resultado. No Censo de 95, apesar de o questionário ainda ter sido em papel, já houve uma grande mudança porque a apuração foi descentralizada: passou a ser feita em todos os estados ao mesmo tempo”, lembra Florido.
A transformação do Censo Agro também foi acompanhada por José Renato Braga de Almeida, hoje chefe da Unidade Estadual do IBGE no Rio Grande do Sul. “Em 1980, nós coordenamos o Censo Demográfico e na sequência incorporamos a coordenação do Censo Agropecuário. Desde então participei de cinco censos agropecuários. Durante esse tempo, passamos por diversas transformações nas etapas de coleta do Censo no IBGE, mudanças que se ajustaram ao período de realização. Com a grande revolução da informática ocorrida no IBGE a partir do Censo Demográfico de 2000, na edição do Censo Agropecuário de 2006, que foi conjunta com a contagem da população, teve uso do PDA pela primeira vez durante a coleta”, recorda José Renato.
O PDA (Personal Digital Assistant) substituiu os questionários em papel. O uso desse coletor digital de dados com captura de coordenadas geográficas, que dispensou o uso do questionário em papel, foi um feito inédito entre os países até então, mesmo considerando aqueles mais avançados tecnologicamente.
A experiência foi repetida em 2017, adotando-se o Dispositivo Móvel de Coleta (DMC), e seguida por outros países, em especial da América Latina, que, inclusive, acompanharam a coleta para conhecer as novas tecnologias utilizadas pelo IBGE.
“Tivemos, também, a inclusão de temas que não eram investigados anteriormente como, por exemplo, questões de meio ambiente, irrigação e agrotóxico”, continua José Renato. “Mas a grande transformação metodológica e tecnológica ocorreu no Censo Agro 2017, especialmente pela concepção de metodologia e o tempo de maturação”, completa o pesquisador.
Após entrar no IBGE, o atual chefe da Unidade Estadual da Bahia, Artur Ferreira, acompanhou como coordenador técnico do estado os censos agropecuários de 75 e 80. “O principal objetivo do Censo Agropecuário sempre foi acompanhar a estrutura agrária do Brasil. Como a produção agrícola é desenvolvida na zona rural, se conhecia muito pouco dessa realidade, só o Censo Agropecuário que retratava isso. E a demanda de dados era muito grande e, por isso, passou a ser quinquenal”, afirma Artur Ferreira, que destaca a inovação trazida pelo Censo de 1995/1996, que considerava o ano agrícola em vez do ano civil, utilizado até então.
Apesar de ressaltar também as inovações tecnológicas trazidas pelo Censo 2006, para Artur, as maiores mudanças vieram na última edição do Censo. “O resultado do Censo saiu em menos de dois anos, o que antigamente demorava muito mais. Mesmo quando demorava, as informações eram imprescindíveis e todos os órgãos do setor agrícola demandavam muito. Hoje temos dados muito recentes”, relata Artur.
Antonio Carlos Florido destaca também que, entre as inovações trazidas pelo Censo Agro de 2017, estão o uso de Dispositivo Móvel de Coleta (DMC), lista prévia de endereços e de coleta de estabelecimentos especiais e uma intensa utilização de sistemas georreferenciados.