Ituiutaba, sábado, 23 de novembro de 2024

Reajuste de Zema abala discurso do Novo e incentiva paralizações

Publicado por Vigilante do Povo em 06/03/2020 às 11:39

O aumento salarial de 41% proposto pelo governador de Minas Gerais, Romeu Zema, aos servidores da área de Segurança embute dois riscos importantes, além de ceder à pressão da categoria. Politicamente, é um tiro no pé da identidade de seu partido, o Novo, cuja principal bandeira é a redução do Estado e o máximo controle fiscal. Ao assumir Minas em crise financeira, o Novo abandona o próprio programa. Zema candidata –se ainda a ilustrar a melhor definição da máxima política de que” fazer oposição é uma coisa, governar é outra”.

O segundo risco é mais abrangente, e o alarme soa em todos os estados. Greves ilegais de agentes de segurança pública não são novidades num país que em geral remunera mal os servidores que arriscam a vida no trabalho. Embora proibidos, os atos historicamente recebem anistia do Poder Legislativo e da Justiça. Com a eleição da Jair Bolsonaro, mais neopolíticos egressos das fardas chegaram ás casas legislativas. A luta corporativista de policiais e militares encontra hoje um ambiente ineditamente favorável.

A expressiva vitória das categorias militares na aprovação de um regime especial da Previdência foi um sinal de empoderamento dessas causas. Quando o governador de um estado em crise cede um reajuste tão desproporcional aos beneficiários dos outros servidores, esse sinal se fortalece.

Policiais capazes de sair pelas ruas encapuzados, armas em punho, obrigando o comércio a fechar as portas, como ocorreu em sobral, onde o senador Cid Gomes foi baleado, não precisam de estímulo para pôr as autoridades estaduais contra a parede. Mas a capitulação de Zema deixa seus colegas governadores mais fragilizados. Aumenta o perigoso espaço para o discurso oportunista da categoria que tem prerrogativa de usar arma de fogo. Se Minas, à beira da falência, quer dar 41% de reajuste, por que se contentariam com menos na Paraíba, em São Paulo ou Mato Grosso?